Em favor do Toddynho Gelado

No último domingo finalmente tive a oportunidade de participar de uma manifestação (agenda apertada, preciso pagar minha contribuição aos mensaleiros).
Existem tantas coisas a dizer e tão poucas palavras no dicionário para descrever...
Quando passei da minha fase de amadurecimento mais hardcore (adolescência) concluí que meu país era o Rio Grande do Sul e por ele eu morreria lutando contra o Brasil sem pensar duas vezes. Pensando bem, talvez até pelo Acre eu morreria lutando contra o Brasil, só porque seria contra o Brasil.
Isso não me tornou do partido de oposição, não me fez aturar política, não me fez sair por aí falando mal do Brasil para os estrangeiros. Muito pelo contrário, só fiquei aqui quieta, com vergonha de ser brasileira. Como eu não podia mudar este fato, o jeito era aceitar e calar, porque nada resolveria, não valia a pena.
Mas eu morria de raiva da política a cada Jornal Nacional, a cada Cidade Alerta, a cada notícia do Neymar e a cada Carnaval. O grotesco parecia estar em todas as partes, envergonhando-me do País, ofendendo minha inteligência e me apertando ainda mais na minha camisa de força atada.

Foi então que começaram as manifestações contra o aumento das passagens, a corrupção, a falta de investimento na edução e na saúde, e mais uma lista imensa...
Consegui sentir meu braço novamente na possibilidade de sair dessa prisão, na possibilidade de um dia dizer novamente "Eu sou do Brasil, obrigada!".
A manifestação da cidade de Taquara/RS foi guiada pela polícia e orientada pelos políticos. O trajeto foi combinado para a polícia sair na frente e desviar o trânsito, para que não corressem o risco de atrapalharmos alguma coisa. Haviam dezenas de pessoas nas calçadas abanando a cada "vem pra rua" que gritávamos chamando elas, outras tantas fotografando e achando que era 7 de Setembro e tudo acabou em um parque, porque éramos manifestantes que tinham imposição e queríamos mesmo era acabar com... o... piquenique... dos outros?
É... foi um desfile. Manifestantes rebeldes exigindo o direito de tomar seu Toddynho gelado. E como o Brasil me parecia estar mudando, ele teve que mostrar que eu estava enganada se achava que poderia ajudar na sua recuperação.

Desculpem filhos, a mamãe nunca vai poder contar à vocês que ajudou a tirar o Brasil da ruína, porque ela só estava em um desfile. Se bem que temo essas manifestações serem esquecidas em 2 anos, então isso não importará mais mesmo. Brasileiros não têm boa memória.

Entretanto, ao invés do meu sentimento pelo País voltar ao que era, já sem esperança de ajudar, apenas com uma pontinha do que, às vezes, parece uma ilusão de que os manifestantes de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e outras capitais não desistam, façam jús ao nome da população revoltada, que cansou de tanta robalheira nos ofendendo na nossa cara, meu sentimento pelo Brasil sim, mudou.
Isso foi uma surpresa para mim... na última Copa do Mundo fiz um trabalho de áudio na Faculdade que falava do futebol brasileiro com um mix de músicas típicas e narrações dos jogos mais marcantes. A duração do fonograma era cerca de 1:00... e eu chorei de emoção ao ouvir.
Eis minha revelação: amo tanto este País, que ao me decepcionar eu quero odiá-lo e esquecê-lo, mas amor é amor e ele sempre volta arrancando um sorrisinho de canto de boca quando faz algo bom e uma lágrima humilde quando emociona. Não sei explicar e também não queria que fosse, mas é.
Droga Brasil... não quero você, quero só meu Rio Grande do Sul que só me dá orgulho.
Afff... o amor...


P.s: Por que você está postando isso em um site chamado Sublime Comédia?
Porque é mais uma ironia da vida... e ironias me fazem rir!